Capítulo 7, Marcas

7
    Entrei nas minhas redes sociais e vi que Victor tinha atualizado seu status em uma rede social;
   “E de repente, tudo ficou mais colorido. Tudo começou a fazer sentido, mesmo não tendo sentido nenhum. A vida começou a ter mais graça, o sorriso dela me faz sorrir e o seu olhar me faz ver mais estrelas do que o normal.”
   Minhas pernas estremeceram e eu pensei que meu coração ia explodir, era uma das coisas mais lindas que eu já tinha lido. Ele escreve como um anjo, só restava saber se a postagem era pra mim. Ai claro que era né Natalie, pra quem mais seria? Resolvi, digamos, revidar.
   “E de repente eu não sabia o que estava fazendo, mas estava adorando isso. De repente ser feliz estava ligado absolutamente a você.”
   Ele acabara de entrar no chat e curtiu o que eu postei, trinta segundos depois, puxou assunto no bate-papo.
   “Oi minha linda.”
   “Oi meu feio.”
   “Feio? Magoei.”
   “Não é feio, mas se eu te chamar de lindo, você vai ficar mais convencido do que já é.”
   “Ah meu Deus, me chamou de convencido de novo, depois não reclama se eu te agarrar e não te soltar mais.”
   “Bobo.”
   “Mas então, posso saber pra quem era sua última postagem?”
   “Pra um garoto aí...”
   “Hum, garoto de sorte esse né? Mas eu tenho certeza que ele é lindo, e tem um cabelo castanho e olhos azuis.”
   “Não, você errou.”
   “Como assim eu errei?”
   “Ele tem um cabelo lindo, liso, castanho e sedoso. E tem olhos azuis lindos, sedutores e intensos.”
   Adorava imaginar como teria ficado a sua expressão ao ler isso.
   “Ah é? E os olhos dele te seduziram?”
   “Talvez. Mas e a sua última postagem, era pra quem hein?”
   “Era pra uma moça que me encantou.”
   “Nossa preciso conhecer ela.”
   “Você iria adorar conhecê-la. Ela é linda, tão linda que tenho vontade de estar perto dela 24 horas por dia. Cuidar dela, abraçar quando ela precisar de um abraço, ser o ombro que ela precisa pra chorar, ser o cara que vai fazer ela sorrir mesmo quando for difícil. Isso que eu conheço ela à três dias, mas ela já faz parte de mim.”
   Por alguns instantes fiquei pensando nessas palavras. A minha sorte estava mudando, pra melhor. Ele era sem dúvida a melhor coisa que me aconteceu, ele agora era o meu ponto de fuga, ele era o meu refúgio.
  “Nossa, garota de sorte, pode me dizer quem é?”
   “Você.”
   Nesse momento eu quase chorei, mas fui interrompida por uma pessoa gritando atrás de mim.
   -Ai que coisa mais fofa Natalie, se você não ficar com ele juro que eu te mato!
   -Anna, que susto! – Falei assustada, minimizando a janela da conversa, com medo de que minhas conversas com Victor se tornassem públicas. – Como você entrou aqui?
   -Como sempre, pedi pra falar contigo, sua mãe disse que você estava no quarto, eu entrei e você nem viu já que estava hipnotizada pelo tal de Victor.
   -Da próxima vez bate na porta sua doida.
   -Ai desculpa, mas achei que você ia ouvir eu entrar já que eu não fui muito discreta.
   -Ok, desculpa.
   -Tudo bem eu te desculpo. Eu vou ali na cozinha tomar um copo de água e já volto.
   Aproveitei a deixa de Anna, e abri a janela da conversa de novo pra responder a Victor.
   “Ai Victor, você está sendo muito gentil comigo, e eu te agradeço imensamente por isso. Eu sinto o mesmo quando penso em você. Tenho vontade de te abraçar o tempo todo, de estar com você o tempo todo. Minha vida é um tédio quando você não está por perto, você faz parte da minha felicidade, e eu me sinto protegida quando estou com você, e isso é incrível. Mas Victor, eu tenho que sair, minha amiga está aqui em casa.”
   “Não! Fica mais um pouquinho, “pufavô”. Manda um beijo aí pra ela.”
    Não dava pra resistir.
   “Tudo bem, se não tiver problema pra você de ela saber das nossas conversas.”
   “Por mim tudo bem, tudo pra conversar mais um pouquinho com você. Mas como é o nome da sua amiga?”
   “Anna Winchester.”
   “Acho que eu sei quem é. Mas diz pra ela, que eu já tenho dona tá?”
   “Ela não te quer não. E outra, quem é sua dona?”
   “Uma guria chata aí.”
   Anna voltou para o quarto, sentou-se na cama de forma que não dava de enxergar a tela do computador. Ela só ficou me falando do quanto o sapato novo dela era lindo, e eu não prestei muita atenção. Avisei à ela que Victor tinha mandado um beijo, ela pediu para que eu mandasse outro, então continuei a falar com Victor.
   “Sou super legal.”
   “Mas eu não estava falando de você.”
   “Só falei que sou super legal, só isso.”
   “Brinquei, é você sim minha linda, me dominou logo no terceiro dia.”
   “Eu sabia que era eu. Sou diva.”
   “Ah, convencida.”
   “Ei, essa frase é minha. A Anna mandou outro beijo pra você.”
   “É sua sim, eu só quis saber como eu me sentiria trocando de lugar contigo. Diga pra sua amiga que eu tenho um amigo solteiro pra apresentar à ela.”
   Virei a cadeira giratória mais pra trás para me dirigir a Anna.
   -Victor disse que tem um amigo solteiro pra te apresentar.
   -Ele é bonito? – Lógico, Anna mostrou interesse.
   -Como você quer que eu saiba?
   -Pergunta pro Victor.
   -Sim, claro, – Falei ironicamente. - e o Victor vai me responder que ele lindo.
   -Não custa nada tentar.
  Voltei a conversa com Victor.
   “Ele é bonito?”
   “Eu pegaria.”
   “Como assim?”
   “Se eu fosse mulher eu pegaria.”
   “Haha, não confio no seu gosto.”
   “Por que não?”
   “Me chamou de linda, você não deve enxergar direito.”
   “Enxergo perfeitamente bem, você é linda e não há como discordar disso.”
   “Victor, para.”
   “Tudo bem vou parar de te deixar sem graça.”
   “Acho bom.”
   Me virei novamente em direção à Anna.
   -Ele disse que se fosse mulher pegaria.
   -Nossa que gay esse seu namorado.
   Não falei nada, apenas ri e me virei para o computador novamente.
   “Anna te chamou de gay.”
   “Pergunta pra ela se ela tem algum preconceito.”
   Perguntei à Anna. Respondi à Victor.
   “Ela disse que não, e que se você me trocar por um homem ela vai atrás de ti e arranca os teus olhos.”
   “Nossa! Credo, nunca vou te trocar por ninguém fica tranquila, muito menos por um homem.”
   “Acho bom mesmo.”
   “Ah diz pra ela que o nome dele é Kevin Lentz, se ela quiser procurar nas redes sociais.”
   E lá vai Natalie, garota de recados se virar novamente.
   Ele disse que o nome dele é Kevin Lentz, se você quiser procurar no chat ou sei lá.
   -Vou procurar depois. – Falou Anna, com um sorrisinho pretensioso no rosto.
   E voltei para o computador.
   “Ela disse que vai procurar depois, ficou toda interessadinha já.”
   “Olha, eu falei dela pra ele, e ele também se interessou.”
   “Lindo, mais um casal formado.”
   “Sim, sim. Olha só, vocês duas estão livres agora?”
   “Sim estamos, por que?”
   “Que tal sairmos nós quatro?”
   “E ele pode também?”
   “Pode, ele já falou comigo.”
   “Só um instante que vou falar com a Anna.”
   Me virei novamente, girando com o corpo a cadeira giratória, para conversar com Anna.
   -Anna, Victor convidou eu e você pra sairmos com ele e o tal de Kevin agora, topa?
   -Lógico, só vou avisar para a minha mãe é rapidinho, vou ligar pra ela.
   Voltei ao computador.
   “Victor, ela aceitou.”
   “Beleza, eu e ele passamos na sua casa daqui a uma hora.”
   “Tudo bem, estaremos esperando.”
   “Okay minha princesa, vou dar uma ajeitada no visual, pra ficar mais lindo do que já sou só pra você.”
   “Vai lá meu convencidinho, também vou me arrumar.”
   “Ok, beijo minha princesa até mais.”
   “Beijo, até mais.”
   Então desliguei rapidamente o computador. Não queria me atrasar em um primeiro encontro de verdade.
   -Anna, preciso me arrumar, você vai ir assim?
   -Você só me empresta um short?
   -Claro.
   -Liguei pra minha mãe, e ela deixou, mas será que eu posso dormir aqui pra não ficar muito tarde pra eu ir sozinha pra casa depois?
   -Claro.
   -Minha mãe disse que vai passar aqui mais tarde e vai deixar minha mochila com as minhas coisas e meus materiais escolares.
   -Se a gente não estiver em casa minha mãe vai estar.
   -Sim, sim.
   E lá fui eu, rapidamente me arrumar pra sair com Victor. Até aí tudo bem. O problema é; que roupa devo vestir? Então depois de revirar o guarda roupa inteiro, pedir a opinião da Anna pra cada look que eu montava e ela não se agradar, achei um em que nós duas concordamos. Minha regata soltinha com a bandeira da Inglaterra, um short de lavagem clara, minha sapatilha preta decorada com spikes e um casaquinho preto bem leve. Pus meu colar com meu pingente de baquetas, e meu par de brincos vermelhos em forma de bolinha. Até que cheguei na frente do espelho para me maquiar, fiz o contorno dos olhos bem forte, bastante rímel, pó, blush e pronto.
   -Espera um pouquinho aí, está faltando alguma coisa, senta ali. – Anna disse apontando para a cadeira giratória do computador. – Vou dar um jeito nisso.
   Sentei na cadeira, ela tirou um batom da bolsa, mas não consegui ver a cor porque ela me implorou para que fechasse os olhos.  Então ela pegou a minha escova de cabelo e ajeitou minha franja, e amarrou meu cabelo em um rabo de cavalo gracioso.
   -Pronto agora pode olhar no espelho.
   Fui até o espelho, e sim eu amei, ela havia passado um batom vermelho na minha boca. Mas eu fiquei pensando que seria muito exagerado, muita coisa pro momento.
   -Anna, isso é mesmo necessário?
   -É sim, agora sim está linda, e eu como estou?
   Ela também havia se maquiado, estava com uma camiseta preta jogada no ombro de fora que aparecia alça do sutiã (branco), com o meu short de lavagem mais escura e com spikes na beirinha dos bolsos e com uma sapatilha branca com umas estampas pretas. Ela estava com os seus cabelos pretos e compridos soltos, com os olhos delineados e batom rosinha. Sim ela estava linda.
   -Maravilhosa.
   Então fui interrompida pela campainha do portão, peguei meu celular e um dinheiro, puxei a Anna e saí correndo,  minha mãe e John estavam na sala. Mamãe assistia a tevê, já John estava babando no sofá.
   -Mãe vou sair com a Anna, com o Victor e com um amigo dele tudo bem?
   -Tudo bem, mas se cuida e esteja em casa às 23h30 por favor.
   -Pode deixar mãe, beijo e tchau.
   Saímos e quando chegamos no portão, Victor estava lá lindo como sempre, de camiseta branca gola vê, flanela azul, calça skini e all star.
   -Nossa! – Victor exclamou, sorrindo, mas exclamou com surpresa. – Uau!
   -O que foi? – Perguntei com medo. – Muito exagero né? Eu falei pra Anna.
   -Não! Você está... linda! Você é linda de qualquer forma, mas você está maravilhosa assim. – Me senti, confiante.
   -Muito obrigado Victor, você também está lindo.
   -Eu sei. – Sempre convencido, e orgulhoso por ser tão atraente.
   -Bom, essa é minha amiga Anna.
   -Prazer Anna, sou Victor. Bom esse é meu amigo Kevin, Kevin essas são Natalie e Anna.
   Kevin era muito bonito também. Tinha corpo esbelto, usava uma camiseta pólo rosa, calça skini e tênis Vans, tinha os cabelos castanhos e lisos e olhos castanhos escuros como a noite. O garoto virou pra mim.
   -Sinto como se já te conhecesse de tanto que o Victor fala de ti. Muito prazer.
   -O prazer é meu. Ah ele fala de mim é?
   -O tempo todo. – Ele se virou para Anna. – E muito prazer em te conhecer Anna, você está linda.
   -Muito prazer Kevin, e muito obrigado.
   -Mas então, vamos? – Disse Victor. – Aproveitar essa noite maravilhosa em companhia maravilhosa...
   -Vamos, vamos. – Kevin disse não tirando os olhos nem por nenhum segundo de Anna, que também não parava de olhar pra ele. – Estou ansioso.
   Nossa, aquele dia tinha me reservado muitas surpresas. Estava sendo tudo muito doido pra minha cabecinha medíocre. Quando que eu imaginaria ver aquela cena? Um encontro de casais era demais pra mim. Mas confesso que estava gostando demais.
   Caminhamos um ao lado do outro na ordem, Kevin, Anna, eu e Victor. A noite estava linda, o céu estrelado, e a companhia maravilhosa, Kevin era um cara legal e muito engraçado. Todos contaram histórias engraçadas, rimos muito. Fazia tempo que eu não me divertia tanto.
   -Mas então que tal um sorvete? – Disse Victor. – Me parece uma boa hora para um sorvete.
   -Acho ótimo, – Disse Kevin. – estava mesmo com vontade de tomar um sorvete.
   -Bom eu topo.
   -Eu também, – Anna concordou – seria ótimo.
   Nos dirigimos até a sorveteria, os garotos foram na frente e quando eu e Anna pensamos tirar dinheiro do bolso, fomos interrompidas.
   -Não, não garotas. – Disse Victor. – Hoje é por nossa conta, as duas princesas vão ficar sentadas na mesinha e só vão nos falar os sabores que querem, o resto deixa com a gente.
   -Victor, tem certeza? – Eu falei. - Eu insisto, pago o meu. Não gosto de ter alguém pagando as coisas pra mim sempre.
   -Menina deixa de ser orgulhosa! Eu vou pagar pra você e ponto final, se você não deixar eu vou ficar chateado. – Ele disse fazendo um beicinho muito infantil, porém lindo e irresistível. – Por favor.
   -Tudo bem, tudo bem. Mas só dessa vez.
   -Então do que você vai querer o seu?
   -Morango com flocos.
   Kevin fez a mesma pergunta a Anna.
   -Eu quero de chocolate com leite condensado.
   Os meninos viraram e pediram os sorvetes, eu e a Anna achamos aquilo encantadoramente adorável.
   -Você gostou de Kevin né?
   -Claro que sim. – Disse Anna. – E que coisa mais linda esses dois, meu Deus estou me sentindo uma princesa.
   -Ai, nem me fale. Não gosto muito desse tratamento, mas de certa forma é fofo.
   -Eu gosto, e é muito fofo.
   E dentro de instantes os meninos voltaram, cada um com duas casquinhas de sorvete na mão. Achei aquela cena linda. Victor chegou por trás de mim, pôs a mão com o meu sorvete na minha frente, ficando com o rosto próximo do meu, me dando um beijo na bochecha, e se sentou na cadeira ao meu lado. Kevin não fez o mesmo, acho que ele pensou que Anna não iria gostar. E continuamos rindo, brincando e tomando sorvete. Quando nos levantamos, resolvemos  ir até a praia dar uma conferida no mar.
   No caminho da praia, estávamos como sempre caminhando lado a lado na mesma ordem. De repente Victor aproxima de canto a mão dele da minha e entrelaça os seus dedos nos meus. Eu olhei pra ele, e ele sorriu, eu sorri de volta. A mão dele estava fria, e a minha estava quente, e aquilo causou uma sensação térmica ótima, como se tivéssemos uma ligação de anos. Mas eram só três dias, apenas três dias.
   Anna me olhou e deu uma risadinha de canto. Kevin fez um comentário engraçado e mais uma vez todos nós caímos na gargalhada. Quando chegamos na praia, sentamos todos lado a lado olhando pro mar, que estava friamente calmo. As pequenas ondas tornavam o lugar ainda mais especial, a luz da lua que estava simplesmente deslumbrante em toda a sua brancura, iluminava o mar, de forma reflexiva. A praia estava vazia, deserta, mas as luzes do calçadão estavam acesas. Victor me abraçou de forma protetora e meiga por cima das costas. Olhei pra ele com um brilho nos olhos me sentindo protegida de todo e qualquer mal.
   -Irônico, - Victor disse rindo de canto. - você usando uma blusa com a estampa da bandeira da Inglaterra, achei que americanos odiassem britânicos.
   -E odeiam. Mas eu não sou uma americana qualquer. Tenho a mente aberta, passei a gostar da Inglaterra.
   -E eu posso saber o porquê?
   -Coisas boas vieram de lá.
   -Tipo essa pessoa linda e maravilhosa que está falando? – Ele tinha plena consciência de que era atraente e adorava me provocar.
   -Não. Tipo seus avós. – A minha ironia já tinha vida própria, surgia do nada.
   -É, mas eles originaram essa coisa maravilhosa que sou eu.
   -Convencido. – Falei apertando a sua bochecha. – Você se acha né?
   -Não me acho, eu sou.
   E continuamos rindo por um tempão, até que...
   -Galera, vamos dar uma caminhada na beira do mar? – Indagou Victor. – Faz tempo que eu não faço isso.
   -Cara, eu estava mais a fim de ficar aqui sentado curtindo a paisagem. – Disse Kevin. – Eu já estou cansado.
   -Eu também, – Anna disse concordando com Kevin, mas dava pra perceber que os dois queriam um tempo sozinhos, pra se conhecerem melhor. – vão vocês dois.
   -Topa Nat? – Victor me perguntou. – Podemos tirar os calçados e sentir a areia entre os dedos, que tal?
   -Topo sim.
   Tirei as sapatilhas, ele tirou os tênis e deixamos ao lado de Kevin. Fomos caminhando pela areia, com a brisa passeando pelo rosto, e a areia passando por entre os dedos dos pés, sensação ótima. Saímos curtindo o luar, até que Victor resolveu quebrar o silêncio.
   -Engraçado não é?
   -O que?
   -Tudo isso. Eu, você, três dias, mudança de vida repentina, nunca imaginei que isso pudesse acontecer. – Ele fez uma pausa, como se estivesse tentando desvendar os mistérios do próprio pensamento. - Você ainda tem medo?
   -No início eu tinha, mas quando eu estou contigo é como se todo o medo fosse substituído por uma confiança surpreendente que eu só encontro no seu olhar. É como se nada pudesse me atingir, é como se eu tivesse protegida.
   Ele passou o braço pelas minhas costas e me abraçou, eu me aninhei em seu ombro. Amava sentir o seu cheiro e seu carinho.
   -Eu também tinha medo, mas também sinto uma segurança incrível, me sinto completo quando estou contigo. Sei lá, talvez seja cedo pra falar qualquer coisa, mas é muito inevitável.
   -Sei como é, parece que quando eu estou contigo as palavras escapam da minha boca, tipo não é que seja sem pensar, mas é que o meu coração resolve falar antes mesmo que a razão faça qualquer escolha.
   -Isso é tão incrível.
   -Eu sei que sou incrível. – Quis que ele provasse o gostinho do próprio veneno.
   -E depois eu que sou convencido né?
   -Mas você é.
   -Ah é? – Ele falou me soltando e sorrindo. – Então você vai ver esse convencido te jogar dentro do mar.
   -Não! Não faz isso. – Hesitei. – Quer saber, – Comecei a correr. – quero ver você me pegar!
   -É pra já que eu te pego menina! – Ele começou a correr rindo atrás de mim. – Volta aqui!
   -Ué, vem me pegar!
   Corremos um pouco ainda, dando gargalhada, até que eu cansei e ele me alcançou. Me pegou no colo com uma mão segurando minhas costas e a outra minhas pernas. Parecia cena de filme, tão meigo, tão infantil e tão puro e simples. Meu coração palpitava felicidade. Eu olhava nos olhos dele dando risada.
   -Agora você não me escapa!
   Ele caminhou uns passos em direção ao mar, mas eu comecei a reagir e nós dois caímos atirados na areia fofa rindo muito alto. Ficamos ali um tempo deitados um do lado do outro olhando as estrelas.
   -Nossa! Fazia tempo que eu não me divertia assim.
   -Sabe que eu também.
   Ele se virou levantou apenas da cintura pra cima, para olhar nos meus olhos apoiou as duas mão na areia, uma de cada lado dos meus braços.
   -Só você faz eu me sentir assim.
   -Assim como?
   -Uma criança de novo.
   E com isso, ele me deu um beijo longo e delicado, talvez o melhor que houvera me dado. Minhas pernas estremeceram e meu coração se assemelhou a minha bateria. Batia em um ritmo acelerado e constante. Minha alma não queria que aquele momento passasse nunca, minha mente queria que o tempo parasse, e que aquele momento se eternizasse, e meu coração explodia um turbilhão de sentimentos felizes. Quando nossos lábios se desligaram sorrimos um para o outro e ele se deitou novamente, segurou minha mão e entrelaçou seus dedos nos meus. Ficamos ali alguns minutos observando as estrelas. Não queria sair dali nunca, mas Anna podia ficar preocupada e minha mãe tinha dado horário.
   -Victor, acho melhor voltarmos, daqui a pouco a Anna vai ficar preocupada, e minha mãe disse que eu tenho que estar em casa até as 23H30
   -Bom, então vamos né.
   Ele se levantou, me estendeu as mãos para me levantar. Me levantei, sacudimos a areia do corpo e ele me deu um abraço bem apertado, e mais um beijo leve e curto. Quando abri os olhos voltando à tona, ele estava com a boca toda borrada de vermelho, e logo deduzi que a minha também estivesse.
   -Você está todo borrado de vermelho. – Pus-me a limpar gentilmente com o dedo. – Deixa eu limpar isso.
   -Borrou um pouquinho em você também.
   -Tira pra mim por favor.
   -Com todo o prazer.
   E me deu outro beijo, só que dessa vez, longo.
   -Pronto agora está limpinha.
   -Bobo. Você também está.
   E sem pensar duas vezes, por motivos e razões que eu desconheço, passei meus braços de forma que abraçassem o pescoço dele e lhe dei um beijo delicado nos lábios. Nossa, eu tomando uma atitude dessas, ele realmente ele mexia comigo. Quando abri os olhos novamente ele sorriu, e eu também.
   -Agora vamos, antes que eles venham atrás da gente.
   -Mas do jeito que eu conheço o Kevin, preocupado com a gente é que ele não está.
   -É, eu acho que a Anna também não, mas é que minha mãe deu horário
   -Sendo assim, então vamos né, já são 22h50 e eu não quero decepcionar a sua mãe.
   Batemos as roupar pra tirar todo o vestígio de areia, sacudi o cabelo, ele também. Ele estendeu a mão para pegar a minha, e entrelaçou seus dedos nos meus e voltamos caminhando. Tudo parecia um sonho. Um lindo sonho.
   -Tenho a incrível sensação de estar sonhando, - Falei sorridente, mostrando minha total confiança nele. -  mas a felicidade de saber que não é um sonho.
   -Sabe como eu tenho certeza de que não é um sonho?
   -Como?
   -Beijos, não são tão bons em sonhos. – Ele tinha uma cara de moleque levado que dava vontade de morder.
   -Então quer dizer que pra um principiante, meu beijo está bom?
   -Nada mal pra uma principiante, mas eu acho que você precisa de mais treino. - Eu dei uma risada muito alta, ele também foi obrigado a rir.
   -Então vou procurar um treinador por aí. – Falei provocando-o e debochando, só pra ver como ele se sairia.
   -Não, pode deixar que eu te ajudo a treinar. Não vou me importar e nem cobrar.
   -Seu bobo.
  Chegamos ao calçadão onde estavam Anna e Kevin. O que suspeitávamos acontecia, eles estavam sentados um do lado do outro rindo muito.
   Victor cochichou ao meu ouvido. – Como eu disse, preocupados conosco é que eles não estavam. – Assenti com a cabeça.
   -Nat, - Anna me olhou com ar de curiosidade e ironia – o que houve com o seu batom?
   -Acho que saiu quando tomei o sorvete.
   -Hum, sei... – Anna fez uma cara de desconfiada inconfundível.
   -Mas então galera vamos embora? A Nat tem que estar as 23h30 em casa.
   -Pois é eu também, vou dormir na casa da Nat.
   -Então vamos né. – Kevin disse, com uma expressão de frustração inconfundível. – Não queria, mas fazer o que?
   -Mas com certeza sairemos mais vezes, – Disse Victor. – se as meninas toparem é claro. – Apenas rimos, porque estava na cara a resposta.
   E saímos nós quatro novamente na mesma ordem, parecendo aqueles casaizinhos de seriado adolescente. E no meio das risadas, o seguinte assunto surgiu de Kevin;
   -Então gente, o que acharam da noite? Eu achei maravilhosa.
   -Pra mim foi... – Victor olhou pra mim sorrindo. – Perfeita.
   -Pra mim foi... – Sorri de volta para Victor. – Mágica.
   -Pra mim foi... – Anna deu uma risadinha. – Fantástica.
   Todos pareciam muito satisfeitos com o passeio, mas eu estava bem mais e podia garantir, borboletas voavam no meu estômago. Parecia que algo estava cobrindo a falta que eu sentia do meu pai, parecia que eu havia de alguma forma ressuscitado. Chegamos no portão da minha casa, eram 23h25, a luz da sala estava acesa o que me dizia que mamãe estava acordada me esperando, normal.
   -Então, parece que o nosso passeio acaba aqui, - Disse Victor decepcionado voltando os olhos para o chão. - infelizmente.
   -Pois é, mas nós sairemos mais vezes juntos, - Eu disse amenizando a tristeza. - vamos combinar.
   -Claro, - Kevin disse sem hesitar. - adorei a companhia de vocês, de verdade.
   -Bom, mas então é isso. – Eu disse. - Vamos ter que nos despedir agora.
   Me dirigi até Kevin pra me despedir dele com um beijo no rosto, enquanto Victor fazia o mesmo com Anna. Todos se olharam depois disso, como se não soubessem o que fazer, foi uma situação um tanto quanto engraçada. Kevin chegou perto de Anna e deu um beijo meigo em seu rosto, e depois um selinho. Aquilo me deixou um pouco espantada, mas eu não tinha razão para aquilo, conhecia Victor à três dias e já havia o beijado umas cinco vezes. Victor se aproximou de mim, segurou minha nuca e quando pensou em me dar um beijo eu o interrompi, e falei ao seu ouvido.
   -Não na frente deles, eu não gosto.
   -Só dessa vez, - Disse ele no meu ouvido também. – eles nem estão prestando atenção na gente. – O sorriso que colocou no rosto dava um ar ainda mais evidente de um sentimento verdadeiro que se estabilizava bem ali.
   -Tudo bem, - Eu assenti, sussurrando em seu ouvido. - mas só dessa vez.
   E me deu mais um beijinho delicado nos lábios. E assim nossa noite terminou, abri o portão eu e Anna mais sorridentes o que nunca entramos em casa, enquanto os garotos iam embora. Quando entrei em casa, minha mãe estava no sofá, olhou pra mim, viu meu rosto feliz, sorriu, e sabia que não era hora para questionários.
   -Oi meninas. – Fez uma pequena pausa. – Anna, sua mãe deixou sua mochila aqui.
   -Ah obrigado senhora Lewis. 
   Fomos para o quarto eu fechei a porta e...
   -Pode contando tudo Anna, o que aconteceu entre você e o Kevin? – Minha curiosidade era evidente, estava na cara que tinha acontecido mais coisas do que eu e Victor tínhamos visto.
   -Nada demais, só um beijinho e nada mais. – Seu sorriso era algo pra ser notado de longe.
   -Mas ele foi romântico com você?
    -Ai demais. Acho que encontrei o homem da minha vida. – Anna riu ao pronunciar essas palavras porque não acreditava nessa história de “ele é o homem da minha vida, o cara certo”. - Mas e você e o tal do Victor? Vocês demoraram pra voltar, posso saber o que vocês estavam fazendo?
   -Nada demais, só conversando e tal.
   -Quantas? – Ela pôs a mão na cintura, com expressão cética me olhando fixamente.
   -Quantas o que?
   -Quantas vezes você já conseguiu me enganar?
   -Nenhuma.
   -Então pode falando o que aconteceu.
   -Nada demais já disse, só caminhamos, conversamos, rimos.
   -O seu batom me entregou o jogo, não adianta mentir.
   -Boba.
   -Estou realizada, a noite hoje foi realmente surpreendente.
   -Eu também, nossa foi tudo tão perfeitinho que estou achando que deve ter ido um delírio da minha mente.
   Anna apenas riu. Colocamos nossos pijamas, escovamos os dentes. Minha mãe já tinha arrumado a cama pra Anna. Eu não parava de pensar naquele dia maravilhoso, e como tudo tinha sido tão perfeito. Parecia um filme na minha cabeça, daqueles bem românticos que costumam passar na tevê aberta. As palavras de Victor e os seus beijos passavam como um flashback na minha mente inconsequente. Mesmo sem querer, criei uma certa dependência de Victor, a minha felicidade estava agora toda em cima dele, parecia que nele eu havia me encontrado. Havia encontrado uma parte de mim que eu desconhecia.
   Nos deitamos, as duas com rostos alegres, estonteantes.
   -E agora? – Sua voz agora era um misto de preocupação e ansiedade.
   -O que?
   -O que vai acontecer comigo e com Kevin? Sei lá, como vai ser meu dia amanhã? Será que ele vai me ligar? Que nós vamos ficar de novo? Será que nós vamos namorar?
   -Não sei, mas ele parecia estar a fim de você. Acho que vocês vão acabar namorando. Mas fica tranquila, você é muito ansiosa. – Olha quem falando, a senhora tranquilidade e confiança. Está certo.
   -Olha eu e o Kevin, eu não sei. Agora você e o Victor eu tenho certeza. Vocês se olham com olhares de pessoas que vão envelhecer juntas.
   -Eu não sei por que, mas eu tenho certeza de que vamos ficar um bom tempo juntos, não sei se a vida inteira, isso seria muito pretensioso da minha parte. Eu conheço ele a três dias mas já foi o suficiente pra medir a sinceridade do que eu sinto quando estou com ele. Nunca me senti tão feliz perto de alguém desde que meu pai morreu.
   -Nossa, você tem noção da intensidade disso? O rosto dele quando te olha, é o rosto de alguém que encontrou tudo o que procurava na vida.

   Não sabia o que dizer, se até quem estava de fora da situação percebia, então é porque havia mesmo algo muito forte nos ligando. Ao pensar dessa forma, sorri. Depois disso, Anna acabou pegando no sono. Eu ainda fiquei acordada, viajando em pensamentos de felicidade. Depois de um tempo dormi.

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