Capítulo 6, Marcas
6
Estávamos tocando a música “Comatose” da Skillet, quando vi um cara de mais ou menos uns quarenta e cinco
anos entrar na loja. Tinha cabelos grisalhos, olhos cor de mel, com umas
ruguinhas embaixo dos olhos, bem bonito para a sua idade, ele me lembrava
Victor, era bem charmoso. Ele sorriu pra Victor e Victor sorriu de volta.
Quando acabamos de tocar, o cara bateu palmas sorrindo.
-Parabéns, ficou muito bom mesmo.
-Valeu pai, – disse Victor – não esperava
ver o senhor por aqui hoje.
-Vim dar as boas vindas a nossa mais nova
contratada. – Ele disse olhando pra mim e sorrindo. – Moça você é muito boa
nessa bateria, vi poucas pessoas tocarem como você toca.
-Nossa imagina senhor, eu apenas toco com o
coração. – Disse eu encabulada, mas realmente sendo sincera. – Muito obrigado,
vindo do senhor considero um grande elogio.
-Que isso menina, estamos juntos nessa
paixão, a música. Victor me falou muito bem de você, e ele tinha razão. Você é
muito simpática.
-Pai, hoje descobri que ela é ótima
vendedora também, ela me ajudou a atender alguns clientes. – Victor tinha o dom
de me fazer ficar encabulada, ele me olhava de canto como se soubesse minha reação,
e ficasse esperando por ela.
-Ah é? Bom, sendo assim o que você acha de
ganhar um pouco mais e ajudar Victor nas vendas?
-Por mim, acho ótimo. – Falei sorridente.
-Bom, então o que você acha de um salário
mínimo e meio?
-Ótimo.
-Então, a partir de amanhã providencie seus
documentos, pra assinarmos sua carteira de trabalho.
-Ok providenciarei, amanhã mesmo eu trago.
Muito obrigado senhor Mansfield.
-Eu é que agradeço, vai nos ajudar muito.
Victor acompanhava tudo apenas sorrindo, eu
estava adorando aquilo. Só o que faltava para a felicidade ser completa era o
meu pai me esperando em casa, com aquele abraço que deixava tudo melhor. Era
ele fazendo a felicidade da minha família.
-Ah, e antes que eu me esqueça, pode me
chamar de Willian. – Ele deu uma olhada rápida na porta e voltou a falar
comigo. - Bom, agora tenho a chance de te ver como vendedora, vem chegando uma
cliente ali, pode atendê-la.
-Bom, senh... Digo, Willian, ela é a minha
mãe. Ela veio comprar um violão pro meu irmão.
-Bom, então tudo bem, não vou te avaliar
dessa vez. – Ele sorriu, com um tom brincalhão de voz.
-Boa tarde. – Disse minha mãe se referindo a
Victor e Willian. – Eu vim comprar um violão pro meu filho e queria dar uma
olhada nos modelos.
-Acho que terá um atendimento especial pela
sua filha. – Disse Willian, simpático como parecia ser o jeito dele a todo
momento. – Acabei de contratá-la por meio turno pra ser nossa baterista e
ajudar o Victor nas vendas. A propósito, parabéns pela filha, muito bem educada
e simpática.
-Obrigado, ela é uma menina de ouro. – Disse
minha mãe, com aquela cara de mãe coruja, me deixando mais vermelha que um
tomate. – Muito prazer, – Disse ela estendendo a mão para apertar a de Willian.
– sou Lindsay Lewis.
-Prazer Lindsay, – Disse ele apertando a mão
de minha mãe. – sou Willian Mansfield. Mas o seu sotaque é diferente, você não
é brasileira?
-Não, não. Eu sou americana, mas eu vim pra
cá bem jovem com meu marido.
Eu e Victor assistíamos a conversa como mera
parte da paisagem. Ele me olhava e sorria e tornava a olhar pro chão.
-Ah é? Eu sou filho de ingleses. Ah, Esse é
o meu filho Victor Mansfield. – Ele apontou para Victor.
-Prazer em conhecê-la senhora Lewis, – Disse
Victor apertando a mão da minha mãe.
-O prazer é meu Victor. Bem mas eu posso dar
uma olhadinha nos violões?
-Claro, fique a vontade. – Disse eu sorrindo.
– Senhora Lewis.
Minha mãe riu, mas parecia feliz por mim.
Ela comprou um Tagina marfim lindo
para John, tinha a certeza de que ele iria adorar.
-Bom foi um prazer conhecê-las, mas tenho
que ir, minha esposa está me esperando, até mais ver. – Willian disse em tom de
despedida.
-O prazer foi nosso! - Minha mãe falou por
mim, e eu apenas consenti.
-Mamãe, onde está o John?
-Ficou na casa de uma amigo, quis fazer uma
surpresa pra ele.
-Ele vai amar tenho certeza, esse modelo é
lindo. Mas quem vai dar aulas pra ele?
-Não sei ainda.
De repente, Victor se aproximou.
-Desculpa, mas eu não pude deixar de ouvir a
conversa de vocês. Bom se a senhora quiser eu posso dar aulas à ele.
-Victor é um ótimo músico mãe. – Eu disse,
surpresa com a ação de Victor e mais surpresa ainda com a minha reação. – Acho
que ele poderia dar aulas pro John.
-E quanto você cobra Victor? – Minha mãe
mostrou interesse.
-Nada, o que é isso. – Ele deu de ombros.
-Victor, tenho que te dar uma recompensa,
fale quanto você cobra?
-Nada senhora Lewis, eu posso ir à noite na
casa de vocês ou ele vai até a minha.
-Nossa Vitor, muito obrigado você está sendo
muito gentil conosco. Será que você poderia ir até a nossa casa? – Minha mãe
havia se agradado de Victor, dava pra ver em seu rosto.
-Claro! Quando eu posso começar?
-Que tal amanhã mesmo?
-Claro pode ser às sete da noite?
-Pode sim.
Adorei ver aquela cena, um havia gostado do
outro, era evidente.
Minha mãe pagou a compra, se despediu e foi
pra casa. Já eram umas 17h00. Meu expediente era até as 18h00 e o movimento
estava bem fraco. Victor estava escorado no balcão com as mãos pra trás como se
escondesse alguma coisa, mas resolvi não perguntar.
-Acho que hoje é o dia da família aqui, – Me
aproximei dele, ficando a sua frente, também escorada no balcão. – só falta a
sua mãe e meu irmão aparecerem.
-Pois é. – Ele fez pouco caso do assunto.
-Mas muito obrigado pelo que está fazendo
pelo meu irmão,é muito gentil da sua parte.
-Mas eu vou cobrar por isso. – Disse ele
colocando as mãos pra frente com dois ingressos em uma delas. – Bom, meu pai
vai ser patrocinador do show da Skillet
em Porto Alegre, e ele ganhou quatro ingressos pra área vip. E bem, vamos eu, ele e a minha mãe, e vai sobrar um ingresso.
Ele disse que eu podia dar a quem eu quisesse pra ir com a gente, e bem pra
saldar a sua dívida você podia me acompanhar até o show né? Topa?
Eu não sabia esconder tanta felicidade, abri
um sorriso gigante, e a minha espontaneidade resolveu pular para fora em forma
de um abraço bem apertado.
-Eu vou, é claro que eu vou! Nossa muito,
muito, muito, mas muito obrigado. Você está realizando meu sonho, claro que eu
vou ter que falar com a minha mãe, mas ela sabe o quanto eu espero por isso, e
ela vai deixar.
Dei um beijo no rosto dele.
-Não precisa agradecer, só esse beijo e esse
sorriso já valeu a pena. Eu tenho certeza que sua mãe vai deixar, ela é muito
legal, e aliás já sei de quem você puxou essa beleza e sorriso.
-Muito obrigado Victor! Nossa eu estou muito
feliz, e você está me saindo melhor do que a encomenda. – Não sabia o que
dizer, ou fazer pra agradecer, ele estava sendo muito gentil.
-E você é linda.
-Você é lindo.
-Eu sei.
-Convencido, bobo.
-Mas lindo.
Ele era algum tipo de anjo que caiu do céu
pra fazer a minha felicidade. Um silêncio nos invadiu, e tudo o que conseguimos
fazer foi ficar olhando um para o outro sorrindo. Eu fiquei estática analisando
a beleza de seu rosto e como eu o achava atraente. Eu tenho certeza que teriam
pessoas que poderiam pensar que eu estava interessada no seu dinheiro ou coisa
parecida. Mas eu nunca seria capaz de uma coisa dessas, sempre achei ridículo
mulher que explora o marido, ou namorada que explora o namorado, pra mim isso
se chama e sempre vai se chamar falta de capacidade. Eu realmente estava me
apaixonando por Victor pelo que ele era e não pelo que ele tinha. Quando
acordei daquele relapso de pensamento, resolvi romper o silêncio.
-O movimento está fraco hoje né?
-Pois é, mas tem dias que isso acontece, mas
você vai ver amanhã isso aqui vai estar cheio.
-Que medo. – Levantei as sobrancelhas com
preocupação.
-Pra que ter medo? É tranquilo, nem
esquenta.
-Eu espero que seja. – Mais uma pausa de
silêncio pairou, mas aquilo não me incomodava. Sentia-me perfeitamente a
vontade com o silêncio na presença de Victor. No silêncio eu conseguia observar
coisas nele, que não observaria no meio do barulho. - Mas então vamos tocar
mais uma?
-Mas é claro senhorita. – Victor disse
segurando a minha mão, se curvando de leve e beijando-a. – Você me daria a
honra desta música?
-Mas é claro cavalheiro. – Eu disse
flexionando os joelhos, como as damas fazem. – Será uma honra.
Tocamos mais três músicas, e como o
movimento estava fraco mesmo, ficamos um tempo conversando. Ele me contou
histórias engraçadas sobre a sua infância e adolescência. Inclusive me contou
de uma vez que ele fugiu de casa para ir ao parque com os amigos pra tocar violão
e impressionar as menininhas, e seus pais o pegaram no flagra. Eu ria muito,
muito mesmo, fazia tempo que eu não ria tanto.
-Você era muito levado Vitinho.
-Dei bastante trabalho aos meus pais, minha
irmã ficava louca quando eu pegava as bonecas dela e riscava com caneta.
-Nossa você era muito mau, – Eu disse rindo.
– Sua irmã devia ter um caminhão de paciência.
-Ela tem até hoje pro tanto que eu a
incomodo. – Ele fez uma pequena pausa - Bom, chegou o fim do nosso expediente
mocinha.
-Pois é, hora de ir pra casa.
-Faço questão de te levar em casa, claro se
você quiser a minha companhia.
-Bom, se não for te incomodar, eu aceito sua
companhia.
-Hoje eu não vim de moto, mas é melhor
caminhando, assim eu tenho mais tempo ao seu lado.
-E eu vou adorar, seu chato. – Franzi o
nariz sorrindo.
-Chato eu? – Disse ele com um sorriso
peralta. - Mas todo mundo me acha super legal.
-Acho que não é o que a sua irmã pensa.
-Capaz, ela me ama demais.
Nossas conversas fluíam facilmente, e eu
adorava o ar descontraído que tinha sobre elas.
Ele desconectou o cabo da guitarra,
colocou-a no lugar, guardou os equipamentos e fechou a loja, e nós fomos
caminhando lado a lado. Eu tive a estranha sensação de que aquela cena se
repetiria muitas vezes, e sorri com essa visão. Victor muito perceptivo não
poderia deixar de notar.
-E esse sorriso no seu rosto, posso saber o
motivo?
-Sabe, é que foi tudo tão de repente. Nós
dois agora caminhando lado a lado.
-Também estou surpreso, e feliz. Mais feliz
do que nunca.
Aquilo soou como música aos meus ouvidos, me
senti nas nuvens, como se voltasse a respirar, depois de tanto me afogar no mar
do desespero.
-Mas você está feliz por estar com esse
chato aqui? – Ele continuou. –Achei que eu fosse muito chato pra você.
-Bobo, você é demais, e eu estou muito feliz
por ter te conhecido. Só faltou uma coisa pra tudo ser completo. – Fiz uma
pequena pausa, Victor não disse nada, como se já soubesse o que viria a seguir.
- Meu pai me esperando em casa, com um abraço.
Ao ouvir essas palavras ele me abraçou ainda
caminhando como quem quisesse me proteger de tudo.
-Eu te entendo, mas eu sei que se ele
estivesse aqui estaria muito feliz ao te ver feliz, – Ele parou e ficou de
frente pra mim, me fazendo parar também em meio a calçada já retirada do centro
da cidade. – e sei também que ele te amava muito, porque foi ele mesmo que
disse, não foi?
E falando isso, percebendo que eu estava
abalada, ele me abraçou forte, apoiando a minha cabeça em seu ombro e aquilo
foi o suficiente para me tranquilizar. Era incrível como ele me entendia
perfeitamente, e era tão bom ter alguém pra desabafar, depois de tantos anos
sofrendo sozinha. Eu tinha Anna e Liza, mas não era a mesma coisa, não contava
tudo à elas, não tudo. Por algum motivo
eu confiava mais em Victor do que na minha mãe, e isso era surpreendente,
afinal só nos conhecíamos a três dias. Victor me soltou e continuamos andando.
-Victor, muito obrigado por tudo.
-Acho que tem uma coisa que você precisa
saber.
-O que? – Falei preocupada, e ele podia
notar isso em minha voz. – Me conta.
-Eu não sei assoviar.
-O que? – Falei desacreditada, e aliviada ao
mesmo tempo. Assoviei e continuei. – Não sabe fazer isso?
-Não.
-Tem que fazer um biquinho, e assoprar
cuidadosamente.
-Assim? – Ele disse fazendo um biquinho estranhamente
lindo, mas ainda não era o ideal para um típico assovio. – Está bom?
-Não, - Eu ri. Parei de frente pra ele, e
com uma mão apertei suas bochechas de forma que seu biquinho ficou mais
bonitinho ainda. – é assim.
E com aquele biquinho ele desprendeu o rosto
da minha mão e me roubou um selinho.
-Isso foi melhor do que aprender a assoviar.
-Bobo, - Ri novamente. - você não presta.
-Presto sim, – Ele disse com uma carinha de
cachorro perdido. – e você adora né?
-Se eu disser que sim você vai ficar mais
convencido do que já é.
-Nem sou convencido, só sou realista.
-Ok então, realista.
Encontrei com Daniel no caminho. Ele me
olhou sorrindo, e deu uma bela olhada para Victor seriamente assustadora, achei
que ia comê-lo com os olhos.
-Oi Daniel, tudo bem?
-Oi Nat. – Ele me cumprimentou com um beijo
no rosto, mas parecia um pouco abatido agora. – Tudo sim, desculpa não poder
conversar, eu estou com um pouco de pressa, vou indo rápido. Beijo.
-Tudo bem, beijo.
Ele se afastou indo em direção ao centro.
Victor tinha um olhar apreensivo no rosto.
-O que foi? – Falei com medo.
-Não gostei dele. – Sua expressão ao
pronunciar essas palavras era séria.
-Por que não? Ele é gente boa.
-Gente boa que está interessada em você.
Muito interessada.
-Deixa de ser bobo, ele é meu amigo.
-Isso é o que você quer enxergar. Eu sempre
soube reconhecer bem isso. – Ele estava se mordendo de ciúmes de Daniel.
-Mas, não importa. Ele é apenas meu amigo,
ele sabe disso. Mas muda de assunto por favor.
-Tudo bem. Mas eu ainda não gosto dele. –
Ele fez uma pausa, como se pensasse em outra coisa pra falar, até que mudou de
assunto. - Então, qual seu doce favorito?
-Com certeza quindim. E o seu?
-Bom,
até ontem, era brigadeiro. Mas agora é o seu beijo ganhando de dez a zero. –
Ele tentou fazer uma expressão séria, mas não agüentou a risada.
-Idiota, – Eu disse rindo, e dei um
empurrãozinho no seu ombro. – Definitivamente você não presta.
-Ai como é bom te ouvir falar assim. Mas e
sua flor favorita?
-Bom, vai parecer meio clichê, mas eu amo
rosas vermelhas. Pra mim são as mais bonitas.
-Não são mais do que você. – Ele disse isso
com delicadeza e suavidade na voz.
-Mas você não perde a chance né? – Pus a mão
na cintura e ergui uma das sobrancelhas.
-Nunca vou perder a chance de te deixar assim,
fica tão linda. Mas prosseguimos com o interrogatório. E comida, assim salgada?
-Lasanha, pizza, enfim amo essas comidas que
vão queijo e engordam só no olhar. E você?
-Churrasco, bife com batata frita, acho que
sou carnívoro demais.
-E
qual a sua música favorita?
-“Yours to hold” da Skillet é claro.
-A
minha também.
-Engraçado,
ela é romântica. Acho que vai ser pra sempre a nossa música. – Pra sempre, era
engraçado ouvir esse pra sempre. Nos conhecíamos a três dias, e já temos um
“pra sempre”.
-Vai sim, e não sei por que razão ou
circunstância algo me diz que vou ouvir ela muitas vezes sorrindo igualzinha a
uma idiota.
-Eu
sei o motivo. Porque você se encantou com a minha beleza e vai lembrar dela
quando ouvir a música.
-Convencido! – Novamente ergui uma das sobrancelhas,
e dei um tapa em seu ombro.
-Mas quer saber, cada vez que eu ouvir essa
música vou sonhar acordado com os teus olhos e com os teus lábios, e assim vou
sorrir e dormir feliz.
-Promete pra mim que não está mentindo? –
Mantive a seriedade necessária para que ele entendesse que eu queria uma
promessa de verdade.
-Prometo, nunca senti tudo isso por alguém
em tão pouco tempo.
-Eu também não, na real sempre achei que
tivesse problemas demais pra me preocupar com mais uma coisa, por isso acho que
me fechei no meu mundinho e nunca pensei que eu pudesse viver algo como isso.
-E você está gostando de viver isso?
-Por mais que pareça arriscado, eu estou
amando.
-Correr riscos é necessário às vezes, mas
pode ter certeza que eu vou fazer essa insegurança que você está sentindo agora
valer à pena. – Ele falou seguro de si, algumas pessoas podiam falar que ele
estava se achando, mas eu sabia que não. Tinha algo além disso.
-E como você pode ter tanta certeza?
-Não sei, só sinto.
Eu achei incrível aquilo, senti sinceridade em
todas as suas palavras. Ele não era como os outros garotos que mal conhecem a
garota e já dizem que à amam, ele só era sincero. Pra mim a palavra amor tem um
significado muito forte. É um sentimento real, e não uma palavra qualquer pra
ser repetida na boca de qualquer idiota. Mas pelo jeito, pra ele também era
assim, afinal ele falou muitas coisas, mas o “eu te amo” não saiu de sua boca,
e isso era só o que ele precisava para ter a minha confiança. Chegamos em minha
casa, minha mãe devia estar lá dentro distraída com alguma coisa, e John ainda
estava na casa de seu amigo.
-Chegamos, – Falei me virando e ficando em
sua frente. - aqui é a minha casa.
-Linda casa Natalie, linda mesmo. – Ele
analisava a casa com olhares de um futuro arquiteto.
-Meu pai projetou cada canto desse lugar pra
ficar mais aconchegante e com o estilo da nossa família maluca.
-Seu pai era um gênio, fez essa linda casa,
essa linda filha.
-Mas você realmente não perde a
oportunidade, - Pus uma das mãos na cintura - bobo.
-Não,
não perco.
-Mas então ok, não vou te prender mais, vou
entrar que a minha mãe deve estar preocupada.
-Tudo bem então, não quero deixar sua mãe
preocupada.
-Tchau Victor. – Falei saindo devagar em
direção ao portão da casa. – Beijo.
-Ei, espera. – Ele disse me segurando pela
mão. – Não ganho nem um beijo de despedida?
-Tudo bem Victor. – Voltei para ele. Quando
fui dar um beijo em seu rosto, ele o virou, fazendo os nossos lábios se
encontrarem em um selinho. -Victor?! Você é louco! Imagina se a minha mãe vê?
-Se ela ver, viu oras. – Ele realmente
parecia pouco se importar com as conseqüências.
-Você é doido. – Eu disse rindo. – Louco de
pedra.
Deu tempo apenas para ele rir, porque a
minha mãe apareceu na janela pra nos surpreender.
-Oi Victor! – Ela exclamou. – Entra pra
tomar um café, preparei tudo.
-Não, obrigado senhora Lewis, mas eu tenho
que ir. Mas não deixe de me convidar pra uma próxima vez.
-Bom, tudo bem né, mas pode deixar que eu
vou te convidar sim.
Ela saiu da janela, e eu me senti um pouco
aliviada, afinal se ela visse qualquer coisa, ia me torrar a paciência pro
resto da vida.
-Bom minha princesa, eu tenho que ir, amanhã
nos falamos.
-Tudo bem, amanhã nos falamos.
-Beijo linda, – Ele me deu um beijo na testa,
extremamente protetor, era como se ele fosse a outra metade do meu mundo. -
fica com Deus.
-Tchau. – Eu sorri. – Fica com Deus.
-Antes de eu ir me faz um favor?
-Depende do que é.
-Me chama de convencido só mais uma vez?
-Meu convencidinho. - Porque que falei isso?
Chamei ele de meu? Ele não é meu, nos conhecemos a três dias, mas essas coisas
saem da minha boca antes que eu consiga evitar. Mas eu adorava essa sensação
perigosa.
-Agora sim, eu posso ir embora feliz, era tudo
o que eu precisava ouvir.
Eu ri, e nos despedimos. Eu abri o portão e
entrei em casa sorrindo igualzinha a uma idiota, tão feliz que não conseguia
esconder.
-Hum, será que temos alguém apaixonada? –
Minha mãe perguntou audaciosamente. – Tão feliz assim, só pode ser isso. E
depois daquele olho no olho e aquelas risadas lá na frente, sei não.
-Mãe eu não estou apaixonada, – Tive que
mentir, na verdade, não sei se menti, apenas omiti a verdade. – o Victor se
tornou um grande amigo.
-Ai que pena, porque o Victor é tão gato,
simpático, e bem educado.
Me deu um ataque de riso gigantesco ao ouvir
aquilo. Victor era mesmo tudo aquilo, mas ouvindo minha mãe falar daquele
jeito, tive que rir. Se ele ouvisse isso, ficaria mais convencido do que já era.
-Do que você está rindo?
-Nada, - Eu sorri. - é só que se ele te
escutasse falando assim, iria ficar todo convencido.
-Viu, depois diz que não está apaixonada, é
só falar no rapaz e já fica com brilho nos olhos e um sorriso bobo no rosto, te
conheço Natalie. E ele também gosta
de você, dá de ver nos olhos azuis dele quando te olham e nesse mesmo sorriso
que surge no rosto dele. Vocês dois combinam.
-Ok mãe, não vou insistir mais, eu vou tomar
um banho e depois eu tomo café. – Mudar de assunto é sempre a melhor opção .
Fui tomar um banho, eu devo ter demorado uma meia hora no chuveiro,
porque eu passei o banho todo viajando, pensando nele. Naquele beijo tão
delicado e sutil que me deixou simplesmente impressionada, foi mágico. Foi o
meu primeiro beijo, e foi lindo. Sorria como uma idiota, quando minha mente se
dirigiu para um medo estranho. Estava indo tudo muito rápido, eu tinha medo de
me entregar, de quebrar a cara, de ser feita de idiota, sei lá. Mas de repente
lembrei das palavras dele quando me beijou, cada palavra delicada e certificada
de carinho me fez ter a certeza de que não ia ser em vão. E uma confiança
gigantesca me invadiu. Voltei a sorrir.
Saí do banho cantando, feliz. Coloquei um
short rasgado, uma regata preta e fui tomar meu café. Sentei na mesa, e mamãe
sentou na cadeira a frente da minha com uma xícara de chá. Ela me encarava
atonitamente, bom, acho que era porque eu não conseguia esconder a minha
felicidade.
-Posso ler nos teus olhos.
-O que mãe? – Pus-me a comer um pedaço de
bolo. – O que você lê nos meus olhos?
-Você gosta dele, e ele de você. Ele te
beijou e você se apaixonou mais ainda.
Mãe vidente? Mais medo.
-Mãe como você adivinhou? – Falei nem me
importando com as consequências, já que eu estava assustada, larguei o bolo no
pires. – Você está me assustando.
-Sei como é, eu já fui adolescente e já vivi
essas coisas. Mas me conta como foi?
-Mãe?! – Não podia acreditar que estava
tendo aquela conversa com a minha mãe.
-Qual foi, não confia na sua mãe?
-Confio, mas eu esperava outra reação.
-Filha já estava na hora de você pensar um
pouco em você, de viver a sua vida. E eu fico feliz de te ver assim tão feliz.
-Obrigado mãe.
-Mas então, me conta.
-Te contar o que? Você já adivinhou tudo.
-Mas como foi o beijo?
-Mãe você não acha meio estranho eu
conversar sobre isso com a minha mãe?
-Não, não acho. Me conta de uma vez.
-Bom, foi delicado, sutil, e simplesmente
mágico. Satisfeita?
-Estou muito feliz por você. E o rapaz é
muito educado, lindo, gentil e o principal te faz feliz. Mas só um conselho,
toma bastante cuidado, seja cautelosa com seus sentimentos, pra se não der certo
você não ficar magoada.
-Pode deixar mãe vou ter cuidado. Mas por que
você ainda não me deu um sermão?
-Confio em você, e na educação que eu te
dei. Sei que você não vai fazer besteira.
Quando ouvi aquilo sorri pra ela, orgulhosa
e voltei a comer meu bolo ainda mais feliz.
-Oh, o homem da casa chegou. – John entrava
pela porta da sala indo em direção a cozinha.
-Falando de mim? – Disse John, com uma cara
de moleque levado. - Acho que deveriam
estar falando da Nat e do namorado novo dela.
-Do que você está falando pirralho?
-Nada, só do garoto que te beijou ali no
portão. – Droga ele viu, Victor era mesmo louco.
-A onde você tava e o que você viu?
-Eu estava entrando no mercadinho da esquina
pra comprar balas e vi vocês dois. E eu espero que ele venha pedir pra mim pra
poder namorar você, afinal eu sou o homem dessa casa.
-Pirralho, ele não é meu namorado, e mesmo
que fosse eu precisaria da autorização da mamãe e não da sua.
-Não é seu namorado e te beijou? Estranho.
-Ai John por que você não vai comer e para
de me amolar? –Não que eu tenha perdido a paciência assim tão fácil, apenas
queria evitar o assunto.
-A Natalie tem um namorado, a Natalie tem um
namorado nanana.
-Mãe, faz ele parar.
-John para. – Só essas palavras vindas da
mamãe já era o suficiente pra ele ficar com medo.
-Graças à Deus.
-Ela tem um namorado, mas não quer que fale.
– Minha mãe falou rindo, debochando da minha cara.
-MÃE!
Todos riram de mim, e eu fui obrigada a rir
também. Depois disso eu me levantei e fui pro computador.
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